MISTICISMO LOUNGE NOISE
Aí vão dois discos recém-descobertos que, apesar do tempo cronológico que os separam, estão unidos por uma mesma força cósmica atemporal (sooooó):
Pedro Santos - Krishnanda (1968)
Por obra do acaso (ou não, já que o assunto aqui é misticismo), achei esse disco hoje no
experimental etc, e ao ver as referências estéticas dos títulos das músicas / disco e da capa não tive dúvidas de que seria no mínimo interessante (além do simples fato dele estar num blog como esse, que traz a nata da música experimental feita no mundo). Dito e feito. Inicialmente achei tratar-se de um Noriel Vilela mais "ambient", mas o cara vai bem mais além. Diria que ele está mais pra o grande Moacir Santos ou Marcos Vale. Li por aí que ele foi um percussionista muito requisitado entre medalhões como Elis, Baden Powell (que tem uma música em sua dedicatória)... A instrumentação do disco em certos momentos chega a ser alienígena. Além de muita percussão, guitarras e órgãos, xilofones e orquestração de cordas/metais (que em alguns temas considero desnecessária, tornando meio meloso o que deveria ser mais rústico - mas nada que comprometa o geral), dizem que Pedro fabricava instrumentos - deve haver algum(s) dele(s) nesse disco. Em alguns momentos as músicas soam como cumbias feitas numa selva latina, noutros como pontos de umbanda, noutros música lounge exótica, sempre recheadas de sons da natureza como cantos de pássaros e de rios. Fui saber da existência desse disco agora a pouco e sinto que ele ainda me acompanhará por muito tempo.
"... aquele que na palavra entender, no nome não se prender, pode ver bem quem eu sou. Mas quem no pé da letra cair, do nome não vai sair, porque no nome não estou..." é a mensagem de uma das músicas que serve pra alertar que o conteúdo deste texto pouco ou quase nada diz sobre essa obra enigmática.
"Procurando por fora você não terá nem sinal", meu velho.
Faixas:
1. ritual negro
2. água viva
3. um só
4. sem sombra
5. savana
6. advertência
7. quem sou eu
8. flor de lotus
9. dentro da selva
10. desengano da visita
11. dualaranbindu
Akron Family - Meek Warrior (2006)
Outra pérola mística que reencontrei recentemente vasculhando cds de back-up. "Blessing Force" me pegou de jeito com sua atmosfera ruidosa-freejazzística que cessa para a introdução de um coro de louvor às forças da natureza (talvez o principal tema do disco). O Akron/Family tem sido definido como uma espécie de culto religioso, mas pelas poucas declarações que li dos integrantes, eles apenas se apropriam de alguns aspectos da música religiosa esteticamente, não há nenhum caráter iniciático ou de seita no grupo. A ruidosa faixa de abertura vai cendendo espaço para inflexões acústicas um pouco mais folk/tradicionais - apesar de sempre pairar no ar aquela impressão de tratar-se de um Animal Collective que ouviu rock progressivo demais. O clima volta a pesar na faixa 6 - a quase prog "The Rider (Dolphin Song)". "Love and Space", que vem em seguida, é um "hino de louvor", cantado à capella, que costuma abrir as apresentações da banda (eles já se apresentaram aqui no Brasil, no Resfest, ano passado, e abriram o show com ela - podem procurar no youtube que tem). Baixei os outros discos deles pra sacar - se tiverem a metade do brilho que este tem já me dou por satisfeito.
Faixas:
1. Blessing Force
2. Gone Beyond
3. Meek Warrior
4. No Space In This Realm
5. The Lightning Bolt Of Compassion
6. The Rider (Dolphin Song)
7. Love And Space
SUOR, CERVEJA E... REVERBAí vão dois exemplares pra download de minha discoteca básica para churrascos à beira da piscina, com gatas eletrizantes de biquíni e a vitrola rodando sons de fundir a cuca, sã ?
THE HOLY'S - SUEÑO SICODELICOBanda muito legal que conheci através de uma coletânea de música psicodélica peruana. Pode se dizer que The Holy's é o The Pop's do Peru. Não consegui descobrir se eles fazem apenas versões ou compõem também, mas não importa, visto que há um toque pessoal em todas versões que reconheci (tem até versão do The Meters - ou será que a do The Meters já era a versão de alguém?). Se você curte surf music /western com órgãos churrasqueiros e muito reverb nas guitarras não deixe de baixar esta pepita sonora.
OSWALDO NUNES E THE POP'S - TÁ TUDO AÍFalando em The Pop's, coloco aqui de brinde esse disco deles acompanhados de Oswaldo Nunes, que dá voz à pegada malandra dos rapazes guitarreiros. Esse disco é uma aula do que depois se convencionou chamar de samba-rock. A faixa-título (com Oswaldão pirando e nos fazendo perguntar que diabos de "capoeira legal" da Bahia seria esse que ele "mandou vir" pra "botar brasa no samba" - hehehe... seria um precursor do D2?) , "Outro Amor de Carnaval" (e sua dor-de-cotovelo carnavalesca) - e "Você Deixa?" (com seu tom sacana Gainsbourguiano/Lacerdiano - o Lacerdiano é de Genival Lacerda - hahaha) são as minhas prediletas.
CONEXÕES NA TRILHA DA PEDRA DO INGÁ
Unindo os temas dos dois últimos posts, noticio aqui que Lula Côrtes vai gravar com Júpiter Maçã lá em Porto Alegre. Os responsáveis pela empreitada são os produtores de um documentário a respeito do lendário disco Paebirú (gravado por Lula em parceria com Zé Ramalho em 1975). O pessoal esteve (ou ainda está - não sei bem) aqui em Recife coletando material pro tal longa-metragem, tendo inclusive filmado com bandas daqui diretamente influenciadas pelo disco (rolou até uma jam de Lula com os seus pupilos em volta de uma fogueira na casa dele).
Por sinal, me chamaram pra filmagem que rolou no Novo Pina mas, por bobeira, acabei só vendo o recado após acontecer o lance. Uma pena.
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Um dos muitos caras daqui que piraram com o Paebirú - e que participa do documentário - foi André Conserva, vocalista e guitarrista d'Os Insites, que agora também está com um projeto solo, intitulado Vagabundo Iluminado, onde assume a persona de Jean Nicholas, um folk singer beatnik, recém-chegado dos States (gravei uma flauta improvisada na música "A Tal Visão", música de vibe totalmente psy-folk, disponível pra escuta e download no myspace do garoto).
Quem conhece o último disco d'Os Insites (na verdade, o primeiro "oficial" em termos de produção), pode constatar que esse caminho "trovador/folk-singer" de Conserva é uma bem sacada concretização metalinguística-poética dos versos da música "Vou passar um tempo em off".
DISCO BERTAS
Até agora a entrevista mais detalhada que já vi fazerem com Zé Ramalho. O entrevistador é o jornalista Marcelo Fróes, responsável entre outras coisas pelo selo
Discobertas, que trabalha com relançamentos e lançamentos de material raro de artistas da MPB/Jovem Guarda. Por sinal, o cd "Zé Ramalho da Paraíba", com gravações raras do começo de carreira de Zé foi lançado recentemente pelo selo (acabei de ver que já tem o garoto
aqui pra baixar).
O cara também está por trás da organização de um tributo ao Album Branco dos Beatles, com artistas de todo país. O primeiro volume já foi lançado, com artistas de maior projeção (Zé Ramalho incluso). As outras edições (são três ao todo) contém artistas mais - digamos - "independentes" fazendo suas versões (inclusive bandas daqui do Recife como Profiterólis, Mellotrons, Nuda, Pé Preto, Sãomer Swadomit...).
P.S.: Falando em Paraíba lisérgica, se eu fosse você eu não perderia o show do
Burro Morto vai fazer aqui na cidade, na sala cine UFPE, no dia 19/09, às 17 h. Pelo que escutei do som dos caras via myspace, eles têm tudo pra abrir o Molotov com chave de ouro, colocando todo mundo pra chacoalhar o esqueleto (foda é que, a essa hora, estarei ainda no trabalho - porraaa!) .
GAÚCHOS NA FRONTEIRA (DO ESCÂNDALO)Mermão, tem coisa mais constrangedora do que o programa do Júpiter Maçã na MTV ? Visse ainda não ? Apôi dá um saque: