Pé-de-Cachimbo

iê-iê-iês from the crypt

quinta-feira, maio 22, 2008

 
RESSACA

Durante o início de minha adolescência - quando caí de cabeça no rock - houveram alguns discos que escutei à exaustão. O primeirão do Black Sabbath (que eu tinha em vinil), o "Rocket to Russia" dos Ramones e a discografia inteira do Nirvana encabeçaram essa fase, em que esse pessoal formava a minha "santíssima trindade" musical.



Essas bandas apesar de serem, à época, amplamente divulgadas na imprensa especializada (principalmente na revista Bizz), não eram assim tão fácil de serem escutadas (com exceção do nirvana, que era divulgado escrotamente em algumas rádios como a mais nova sensação do verão).
Tipo, pra se escutar algum desses discos por inteiro, tinha-se que correr atrás.
Foi o que eu fiz, munido de pouca grana, muitas fitas k7 velhas e perseverança. Pra se ter uma idéia, quando eu ia na Vinil Alternativo secar os discos (e raramente comprar alguma coisa), pegava o ônibus (morava em Olinda) e ia traseirando pra tentar economizar alguma grana e inteirar o valor de algum disco ou alguma gravação em fita k7, o que fosse...

Mas o foco deste texto não pretendia ser nesses discos (tampouco na minha dificuldade para obtê-los) - os quais citei com o intuito de servirem de contraponto a outros (sobre os quais falarei a seguir), que, ao contrário, não tiveram que ser caçados como verdadeiros tesouros ...
Eles foram-me apresentados pelo meu tio, Ivan (exímio músico intuitivo), no auge dessa tal fase. Naquela época eu não lhes dei tanta atenção, entretanto, hoje, eles são mais influentes pra mim do que o "ranço grungístico" dos demais.
Será que meu espírito envelheceu ? Não sei ao certo. Música é coisa de momento ? Apesar de acreditar que o "fator época" possua uma relevância pra se privilegiar determinado tipo de som, não acho que seja somente isso. O fator biográfico também seria um aspecto relevante nisso tudo ? Claro. Afinal, eu não sei até que ponto teria mergulhado no rock caso não tivesse me mudado pra Olinda (ver este post a respeito do assunto).

Mas deixemos esses questionamentos de lado e vamos aos discos:

- In the Court of the Crimson King (King Crimson)

Tava re-escutando essa bolachinha outro dia e peguei-me pensando justamente na época em que fora apresentado a ela. "21th Century Schizoid Man" não contrastava tanto com - por exemplo - aqueles riffões de Tony Iommy, que influenciariam posteriormente gerações e mais gerações, do punk ao metal. Entretanto, mesmo essa música específica - que tinha certos elementos presentes nas bandas que eu escutava à época -, exigia-me uma bagagem musical de ouvinte que eu ainda estava distante de possuir. Saxofone pra mim era sinônimo de Kenny G... Jazz pra mim era sinônimo de algo formal, retrógrado, chato... Entretanto aquela pequena (levando-se em consideração os padrões épicos do gênero) incursão jazzística numa canção de rock soava como uma "falha na matrix", visto que de forma alguma condizia com esses juízos de valor baseados no mais puro preconceito (ou simples desconhecimento mesmo). E o que dizer do restante do disco - tão pouco convidativo a "bater cabeça" ? O volume dos instrumentos em algumas faixas era tão baixo, que necessitavam de um ganho no volume do aparelho som para serem ouvidos. Era como se o "bichinho do silêncio" houvesse roído parte da gravação. E os arranjos ? Tanto os mais econômicos quanto os mais grandiloquentes eram de uma complexidade ímpar. O que me faz lembrar, por sua vez, do

- Sgt. Peppers Lonely Hearts Club's Band (Beatles)

Este foi-me apresentado pelo meu tio com grande entusiasmo e eu, como habitante do planeta terra que sou, já tinha ouvido falar, embora não o tivesse escutado na íntegra até então. Achei-o muito... muito... fraquinho e pouco convidativo... É sério. Até já havia lido a respeito dos aspectos revolucionários que ele trazia à música pop, mas aquilo não me tocou de forma alguma. Acho que a única música dele que eu curtia de verdade era "Lucy in the Sky with Diamonds" (talvez por saber tocá-la ao violão - hehehe). Todos aqueles arranjos orquestrais de bandinhas de coretos de praça me causavam náuseas. Ao contrário do disco do King Crimson, pelo qual nutri certo apreço desde o primeiro contato, o Sgt. Peppers parecia-me fadado ao total esquecimento de minha parte... Mal sabia eu que, num futuro não tão distante, eu seria capaz de cantá-lo da primeira à última estrofe e, assim como meu tio fizera comigo, apresentá-lo com entusiasmo à minha filha (que - ainda - não tem os bloqueios/marras estéticos que eu tinha).

- Caetano Veloso (1969)

Chegamos, por fim, ao famoso "Album Branco" de Caê, que eu ganhei em fita k7 (original). Apesar da simplicidade da capa, que contém apenas uma assinatura, o conteúdo sonoro do mesmo é extremamente colorido. Não tão berrante/psicodélico como o do Sgt. Peppers pois, apesar dos arranjos sempre complexos de Duprat (que era bem mais vanguardista do que George Martin), há uma certa ênfase acústica/folk que torna o disco descalço, tropical, tribal, selvagem, despojado (experiência esta que seria escancarada mais vanguardisticamente em discos como "Transa" e "Araçá Azul")... É assim desde o começo, com "Irene", que tem direito a entrada falsa e texto construído como um hai-cai concretista, repetido ciclicamente por cima da levada quase-baião, de uma forma que remete a uma jam-session. "Atrás do Trio Elétrico" era a única faixa que eu já conhecia, justamente por ela ser o que há de mais "popular" (até carnavalesco) no repertório do disco e tem Lanny Gordin aloprando na guitarra elétrica. Já "Os Argonautas", que vem após ela, é totalmente quarta-feira de cinzas. A melancolia dos versos, inspirados num célebre poema de Fernando Pessoa, são magistralmente cantados em ritmo de fado, numa inspiradíssima interpretação de Caê. Lindo de morrer. Pô... ainda tem as versões fodásticas de "Cambalache", "Carolina", "Chuvas de Verão" mostrando que, além de ótimo compositor, Caetano é um grande intérprete. Ainda tem a concretice radical de "Acrílico", "Objeto não Identificado"... Esse disco é perfeito.
[já tava aqui quase esquecendo do restante do texto e fazendo uma resenha dele "em separado"]

Pois é isso, crianças... tem coisas que demoram a bater, mas quando batem fazem um "estrago". Logo, não menosprezem dicas de tios limpeza. Se elas lhe parecerem intragáveis inicialmente, deixe a substância no "freezer" e vá sorvendo aos poucos, quando der... ou simplesmente espere bater aquela ressaca da adolescência... a sede de beber dessas águas lhe dirá o que vingou.

 
I was living in a Devil Town
Didn't know it was a Devil Town
Oh, Lord, it really brings me down

About the Devil Town

And all my friend were vampires
Didn't know they were vampires
Turns out I was a vampire myself
In the Devil Town

(Devil Town - Daniel Johnston)

Tomando, ainda, Daniel Johnston & Johnston como ponto de partida do nada a lugar nenhum, os versos acima transcritos ilustram perfeitamente minha sensação quanto ao dia de ontem (leia-se: dia de coisa x vasco, na Ilha - eca).

quarta-feira, maio 21, 2008

 
"Vamos lá. Dessa vez você consegue escrever algo interessante pra si mesmo e não salvar como rascunho".
Mineiro outro dia disse pra eu usar a minha "falta de inspiração" como mote textual pra atualizar o blog. Mal sabia ele que esse recurso já foi usado por aqui incontáveis vezes... tantas que já enchi o saco. Aí chegamos nesse ponto: de escrever sobre o auto-impedimento pessoal de escrever sobre a falta de inspiração pra se escrever... um aborrecimento só.

É melhor usar aquele outro recurso - também bastante batido por aqui - o de livre associação de idéias.


9999999999999999999999999999999999999


Andei ouvindo Daniel Johnston, aquele Senhor com transtorno bipolar que tem fixação no capeta e no número acima ...
number nine number nine number nine
assim como aquele outro doido de plantão (embora muito menos limpezinha) - o Sr. Charles Manson, que protagonizou uma carnificina ao ser guiado por significados ocultos em "Helter Skelter" ou em todo o white album dos bítous. o que por sua vez me lembra do episódio da festa de sábado, quando me esgoelei pra cantar essa dita cuja (com o mode embromation on), comentendo um atentado aos ouvidos alheios ( já dizia uma cantora da "cena pernambucana" que era de uma conhecida banda cover: "o vocal de Paul é muito linear". isso até hoje é usado como frase-piada interna entre eu e meus amigos, já que ela aparentemente não falou isso tirando onda, nem aparentemente estava tomando algum tarja preta do tchatchatcha).

Num tem jeito não. Eu e Marditiu todo ano tentamos dar uma incrementada no repertório da Gouveia's Fest mas sempre acabamos tendo que aderir aos pedidos de tocar raul, pink floyd-fasefarofa, oeieis, esses troços todos. Tudo em nome do fácilextremamentefácilpravoxêeeuetodomundocantarjuntooo

A gente querendo tirar uns kinks, bowie, neil jung e a galera morgando... tsc tsc...
Mas nos aguardem... ano que vem tem mais... we'll be back !!

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