Pé-de-Cachimbo

iê-iê-iês from the crypt

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

 
RELATÓRIO DE VÔO

O Foguete do Recife está prestes a mergulhar no mar devido a falta de combustível. Coloquei uma quimera em seu tanque pra pelo menos amenizar o ruído ensurdecendor dos alarmes. Nós da tripulação restante, atônitos, inicialmente pensamos em simplesmente abandoná-lo saltando de pára-quedas e o Major Alfredo que havia nos alertado para tal, desapareceu (não sabemos se foi em busca de socorro ou se nos abandonou). Mas manterei a calma, já que o Comandante Erastto no momento hiberna em sua cápsula ultra-revigoradora e estou praticamente sozinho no painel de controle. Uma ordem do Major Alfredo e aciono os botões de ejeção.

 
após um post enigmático denominado "chuteiras penduradas", o mundo blogueiro já pergunta-se: por onde andará alfredo fry ?

terça-feira, fevereiro 24, 2004

 
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depois de um final de semana revigorador em barra grande (alagoas) eis que estou de volta às agruras da cidade grande. rotina sufocante, tela de baixa definição e o cifrão como clave. ah, ainda é carnaval, já ia esquecendo. tô decidindo se vou ver a nação zumbi no rec beat mas o cansaço prevalece - até pra pensar. gostaria muito de lembrar-me dos vários "insights" que tive por lá, mas temo que muitos deles se apaguem com a fumaça que sai dos escapamentos desses automóveis da agamenon magalhães.

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

 
queria saber se tem algum nome que especifique aquilo que sinto quando me despeço de luna e ela me diz: "qué í tabalhar papai...".

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

 
MOTE PARA UMA VIDA

"O risco maior é a crença na objetividade, na naturalidade e na presunção de que a estabilidade está aí para sempre. O costume, o hábito. O sentido é nos oferecer a estabilidade mínima, isto é, a rotina, para podermos procurar a instabilidade mais inspirada."

Santiago Kovadloff, filósofo argentino, na edição de fevereiro/2004 da Continente Multicultural explicando em entrevista o título de seu livro "Sentido e Risco da Vida Cotidiana".

E eu ainda fico questionando os motivos do fascínio que a filosofia exerce sobre minha pessoa...

 
DROGA LÍCITA

tomando um cafezinho atrás do outro pra ver se tiro um pouco dessa leseira que quer me possuir... - xô, saia deste corpo, esta morada não te pertence. é engraçado o fato de termos constantemente à nossa disposição uma droga bancada pelo Estado, isso porque teoricamente ela nos torna mais "produtivos". creio que quase todos acreditam nesse atributo porque os "usuários" são grande maioria - e não tem coisa pior do que o cafezinho "oficial" daqui do trabalho. gostaria até de saber se existe algum teste comparando o desempenho de repartições públicas que oferecem café a seus funcionários (em suas variantes relacionadas à qualidade do produto) com outras que não oferecem. em nossa cultura o café é o energizante oficial (embora nem sempre tenha sido assim - tudo, na verdade, depende de convenções político-econômicas) e o vinho é o próprio sangue do messias. ninguém evidentemente vai colocar umas folhinhas de coca pra voismecê mascar. mas, com todo esse bafafá que existe atualmente em torno da optimização do lucro, não acho difícil que algum dia o Estado conte com distribuição massiva de algo como a "soma" de Huxley ...
- alguém tem um pouquinho de leite em pó pra desamargar um pouco esse pequeno "tamanho família" ? brrrrrr...

domingo, fevereiro 15, 2004

 
arrôto. o macarrão tava meio meia-boca mas deu pra forrar legal. boa noite. daqui a pouco luna acorda. haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...

 
esse lance de ter uma célula familiar te dá o (i)material de construção para erguer uma barragem. fica difícil da angústia romper o dique. sinto-me simplesmente como se estivesse num lugar com muitas pessoas procurando desviar-me delas para fazer alguma necessidade fisiológica. como vomitar. só que é como se eu tivesse que explicar-me a cada uma delas durante o caminho até o "banheiro". e esse caminho é interminável. parece durar toda uma vida.

 
acho que meu computador retornou do mundo dos mortos. mas não sei o quanto isso é algo excepcional. tô lendo bukowski. já que todo blogueiro lê eu tô lendo também. tá uma pá de gente aqui em casa. como sempre. esse é apenas um experiemento de escrever diretamente no editor do blogger, já que não costumo fazer isso. ultimamente tenho procurado fazer muitas coisas que não costumo fazer comumente. tudo pra tentar ter outra perspectiva da vida, do mundo. mas não sei... a impressão que tenho é que isso também vira uma espécie de rotina, coisa comum. que merda.

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

 
HAL

meu computador deve estar com alguma doença rara, desconhecida pela maioria dos médicos de plantão que o examinam - daquelas que, para terem parecer satisfatório, são levadas à Centros de Pesquisa e analisadas à exaustão.

tenho vários amigos que mexem diretamente com informática que, quando aparecem lá por casa, se prostam de frente pra Hal (denominação carinhosa dada por wine) e passam horas a fio tentando desvendar seus segredos - que são minha desventura. ninguém até agora conseguiu entender o que se passa com este ser tão temperamental.

pelo menos, acho eu, que a gravidade do caso está sendo amenizada já que, se agora ele não quer entrar no windows, antes nem pra ligar ele mexia seu traseiro cibernético.

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

 
FREE YOUR MIND

O antiqüíssimo problema da liberdade versus controle iniciou um novo estágio em nossa era. Muitos críticos têm descrito e denunciado o decisivo controle externo de nossas atividades e faculdades, e particularmente a doutrinação ideológica e manipulação psicológica as quais estamos sujeitos por intermédio dos mass media. A ciência moderna tem descoberto e desenvolvido um vasto repertório de técnicas as quais podem ser usadas para controlar e manipular mente e comportamento. A questão: “Quem controla o controlador ?” torna-se especialmente crucial quando a liberdade de consciência do homem está sob delimitação.
Não podemos mais aceitar a noção de uma ciência de livre-valor ou aderir a um otimismo ingênuo em consideração ao progresso científico e tecnológico. Necessitamos complementar nossa destreza técnica no controle do mundo externo com um desenvolvimento correspondente de nossos recursos interiores. A adulação da inclinação técnica, científica e da cultura econômico-tecnológica, da habilidade organizacional e burocratização induz ao sacrifício do indivíduo singular e à rejeição da validade da experiência subjetiva. A consciência intuitiva, compreensiva e direta da unidade essencial da phenomena, e um senso do relacionamento do eu com o mundo, têm sido negligenciados e consentidos ao sofrimento. Suspensão da função leva à atrofia do órgão.
Existem, entretanto, muitos grupos no interior de nossa cultura que estão tentando convocar o homem a voltar-se para si mesmo. Na psicologia, por exemplo, há uma tendência que pleiteia por uma “revolução humanística”, em direção oposta ao behaviorismo e modelos do “mecanismo biológico” rumo a uma consideração de valores e metas autodirigidas na motivação humana. Há uma poderosa orientação existencial tanto na filosofia quanto na psiquiatria, a qual está começando a causar impacto na nossa sociedade com uma convocação à existência autêntica, liberdade pessoal, responsabilidade individual e autodeterminação. A unicidade do indivíduo está sendo redescoberta e a legitimidade da experiência subjetiva afirmada.
Tal retorno a uma orientação interna não deve-se a qualquer nova forma. Por toda história tem havido esforços para restabelecer a condição de relacionamento direto com o mundo, celebrada nos mitos do Paraíso. Da alegoria da caverna de Platão às Viagens ao Oriente de Hesse, filósofos ocidentais têm descrito experiências além de nossa obscura percepção cotidiana e revelado com força surpreendente uma visão direta da realidade. A busca por essa experiência e a consciência de suas implicações está muito mais desenvolvida no Oriente do que no Ocidente; conseqüentemente o programa tem muitas vezes que ser exposto em termos da unificação das abordagens do Oriente e Ocidente. Homens sagazes têm enfatizado repetidas vezes que temos muito a aprender com as duas grandes culturas do Oriente: a Índia, com seu altamente diferenciado conhecimento prático dos diferentes estados de consciência, e a China, com sua soberba sensitividade para as complexidades e nuances da interação social.
A síntese das substâncias expansoras da consciência, a qual nós consideramos como um dos maiores empreendimentos de projeção da sociedade tecnológica, tem agora nos provido com recursos para transcender e superar muitas das distorções que operam na mesma sociedade que produzem tais substâncias. É possível afirmar agora o caráter geral de nossa tecnocracia social sem sucumbir a demandas totalitárias. A criação e proteção da liberdade interior para um grande número de pessoas através do uso inteligente de substâncias psicodélicas são agora uma realidade prática. Julian Huxley predisse que a nova evolução do homem não será biológica mas irá tomar lugar no noológico ou dimensão psíquica. Ele tem traçado uma analogia entre a exploração do espaço cósmico e a exploração do espaço interior na base dos recentes avanços na farmacologia e química da mente.
Essas substâncias modernas são apenas os equivalentes sintéticos de plantas e poções alteradoras da mente das quais se tem conhecimento há milhares de anos. Através delas nós agora possuímos um poderoso auxílio na jornada interior, uma nova chave para as portas da percepção, novo acesso aos problemas ancestrais da identidade e realidade. Nós, por esta razão, temos como nosso lema aquele atribuído a Heráclito: “Você não descobriria as fronteiras da psique, mesmo que viajasse por cada caminho, tão profunda é sua extensão e significado”.


tradução (ainda incompleta) feita por mim do Editorial da Psychedelic Review, Vol. I, No. 1, June 1963 - revista da Harvard University que publicou muitos dos trabalhos de gente como Timothy Leary, Alan W. Watts, Ralph Metzner. Neste link você encontra os arquivos do periódico de 1963 a 1971.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

 
O FANTASMA HIC... DIGO, HIPPIE

O meu prometido texto sobre o Ave Sangria já tá virando lenda e eis que eu renuncio à tentativa de fazer uma espécie de "dossiê" sobre a banda pro Foguete. Acho que vou fazer um faixa-a-faixa do disco mesmo com algumas informações pescadas em escassas fontes.

Por enquanto que não sai, narro um episódio curioso, ocorrido com este que vos fala, que poderia constar nos arquivos do Recife Assombrado tamanha é sua bizarrice.

"Merilú tomou veneno
assassinou seu filho pequeno
só porque não tinha nada pra fazer
depois que a linda madrugada acabou
tchu-tchu-ru-ru-ru-ru"


Certa madrugada, num bar de frente pro Teatro do Parque, ouvi essa estrofezinha cantada por uma figura daquelas que pararam nos anos setenta, quase ficando definitivamente por lá. Não lembro do nome desse guitarrista/violinista (ou era baixista ? - estava tão bêbado quanto ele), mas lembro dele ter falado-me de seus dias de glória, ao lado de gente como Zé Ramalho e tenho a impressão dele ter dito que havia chegado a tocar com alguém do Ave Sangria (de repente ele até era um dos integrantes mesmo - essa amnésia é foda). Essa tal música que ele cantou data dessa época.

Mas, enfim, algumas semanas depois desse episódio, vi na TV Cultura (Universitária) um documentário sobre o Hospi(cio)tal Ulysses Pernambucano, popularmente conhecido como Tamarineira (nome que, por sinal, era a alcunha de uma das primeiras bandas desse "rock nordestino", o Tamarineira Village, de onde saiu o "autor de mistérios da meia-noite"). E, adivinha quem era um dos entrevistados ? Ele mesmo - o "Merilú" (eu e meus amigos o rebatizamos assim, apelativamente), dando seu testemunho e uma palhinha ao violão. O cara simplesmente ficou durante um bom período internado lá... Consequência das loucuras dos 60's/70's ? Vai saber... não acho difícil que seja, afinal, o Ave Sangria, por exemplo, pagou seu preço pela lisergia desmedida. Mas isso já é outra história, coisa pra "jornalistas investigativos" de verdade.

 
O BEBÊ DE VALENTINA
Caso Freud esteja Certo

Terminei de ler, anteontem, a obra supra-citada (e já estou relendo-a). "Hum, temos algo deveras afetado por aqui..." foi o pensamento que me passou em algum plano interpretativo ao deparar-me com as primeiras páginas - decerto porque a apropriação do surrealismo pela pop-art traduzida no universo popularesco das HQ acabe superficialmente soando assim.

Mas, na verdade, esse "pé-atrás" não passou de uma espécie de auto-defesa mesmo, perante o conteúdo provocador (e extremamente inovador) dessa "saga psicológica" de Valentina, a sexy fotógrafa sinônimo da mulher independente, criada pelo italiano Guido Crepax (que morreu ano passado com 70 anos) em homenagem a Louise Brooks, sua atriz predileta.

Digo que os quadrinhos, durante muito tempo eram a forma de expressão que mais me satisfazia (a ponto de ter em mente de forma clara, como futura profissão, ser um desenhista de HQ's... isso até meus 13 anos - a partir daí eu comecei a dedilhar um violão e questionar-me: “Well what can a poor boy do / 'cept to sing for a rock and roll band /'cause this sleepy’Manguetown’ / Is just no place for a street fighting man”. Essa satisfação - caso Freud esteja certo -, como qualquer outra, está ligada à conteúdos inconscientes e Crepax parece fazer aflorar em mim essa relação novamente - ela que havia-se perdido juntamente com outros conteúdos de minha infância.

Daí o impacto desse "Valentina" ter sido quase que totalmente visual pra mim, pois as narrativas surreais escritas tornaram-se mais ou menos constantes em minha "idade da razão". Já com a imagem é diferente. Nunca li uma narrativa de fôlego como esta na linguagem de quadrinhos - e, diga-se de passagem, minhas leituras atuais de HQ resumem-se à tiras de jornais, que acabam sendo o "fast-food" dessa arte... Sendo assim, Valentina é um verdadeiro banquete.

Não que o texto também não exerça seu papel dentro dos "jogos psíquicos" evocados na trama/teia, mas acontece que (caso Freud esteja certo, novamente), pelo fato de nosso conteúdo simbólico ser totalmente moldado na 1ª infância (onde a linguagem articuladamente escrita ainda não desenvolveu-se) a imagem acaba catalizando as representações mais fiéis à nossa visão real de mundo, aquelas que representam os mais determinantes "imprintings" (tomo emprestado esse termo do "Revendo Leary"). Isso equivale a dizer que, de certa forma, a imagem fala mais ao nosso ID do que as palavras.

Não é porque nosso habitat natural é Maya que não devemos deixar de querer voltar ao ponto em que todo a "ilusão" com relação ao mundo foi gerada. Afinal, além do fato de olharmos através de véus, a vida tende a ser para muitos uma sucessão infindável de auto-enganos em crescente. E quebras da ordem são muitas vezes necessárias para enxegarmos as coisas - se não como elas realmente são (o que é assunto para metafísicos), pelo menos como elas constituem-se na aparência-que-acaba-sendo-o-em-si.

Site oficial: http://www.crepax.it/produz/h_prod.htm

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