FREE YOUR MIND
O antiqüíssimo problema da liberdade versus controle iniciou um novo estágio em nossa era. Muitos críticos têm descrito e denunciado o decisivo controle externo de nossas atividades e faculdades, e particularmente a doutrinação ideológica e manipulação psicológica as quais estamos sujeitos por intermédio dos mass media. A ciência moderna tem descoberto e desenvolvido um vasto repertório de técnicas as quais podem ser usadas para controlar e manipular mente e comportamento. A questão: “Quem controla o controlador ?” torna-se especialmente crucial quando a liberdade de consciência do homem está sob delimitação.
Não podemos mais aceitar a noção de uma ciência de livre-valor ou aderir a um otimismo ingênuo em consideração ao progresso científico e tecnológico. Necessitamos complementar nossa destreza técnica no controle do mundo externo com um desenvolvimento correspondente de nossos recursos interiores. A adulação da inclinação técnica, científica e da cultura econômico-tecnológica, da habilidade organizacional e burocratização induz ao sacrifício do indivíduo singular e à rejeição da validade da experiência subjetiva. A consciência intuitiva, compreensiva e direta da unidade essencial da phenomena, e um senso do relacionamento do eu com o mundo, têm sido negligenciados e consentidos ao sofrimento. Suspensão da função leva à atrofia do órgão.
Existem, entretanto, muitos grupos no interior de nossa cultura que estão tentando convocar o homem a voltar-se para si mesmo. Na psicologia, por exemplo, há uma tendência que pleiteia por uma “revolução humanística”, em direção oposta ao behaviorismo e modelos do “mecanismo biológico” rumo a uma consideração de valores e metas autodirigidas na motivação humana. Há uma poderosa orientação existencial tanto na filosofia quanto na psiquiatria, a qual está começando a causar impacto na nossa sociedade com uma convocação à existência autêntica, liberdade pessoal, responsabilidade individual e autodeterminação. A unicidade do indivíduo está sendo redescoberta e a legitimidade da experiência subjetiva afirmada.
Tal retorno a uma orientação interna não deve-se a qualquer nova forma. Por toda história tem havido esforços para restabelecer a condição de relacionamento direto com o mundo, celebrada nos mitos do Paraíso. Da alegoria da caverna de Platão às Viagens ao Oriente de Hesse, filósofos ocidentais têm descrito experiências além de nossa obscura percepção cotidiana e revelado com força surpreendente uma visão direta da realidade. A busca por essa experiência e a consciência de suas implicações está muito mais desenvolvida no Oriente do que no Ocidente; conseqüentemente o programa tem muitas vezes que ser exposto em termos da unificação das abordagens do Oriente e Ocidente. Homens sagazes têm enfatizado repetidas vezes que temos muito a aprender com as duas grandes culturas do Oriente: a Índia, com seu altamente diferenciado conhecimento prático dos diferentes estados de consciência, e a China, com sua soberba sensitividade para as complexidades e nuances da interação social.
A síntese das substâncias expansoras da consciência, a qual nós consideramos como um dos maiores empreendimentos de projeção da sociedade tecnológica, tem agora nos provido com recursos para transcender e superar muitas das distorções que operam na mesma sociedade que produzem tais substâncias. É possível afirmar agora o caráter geral de nossa tecnocracia social sem sucumbir a demandas totalitárias. A criação e proteção da liberdade interior para um grande número de pessoas através do uso inteligente de substâncias psicodélicas são agora uma realidade prática. Julian Huxley predisse que a nova evolução do homem não será biológica mas irá tomar lugar no noológico ou dimensão psíquica. Ele tem traçado uma analogia entre a exploração do espaço cósmico e a exploração do espaço interior na base dos recentes avanços na farmacologia e química da mente.
Essas substâncias modernas são apenas os equivalentes sintéticos de plantas e poções alteradoras da mente das quais se tem conhecimento há milhares de anos. Através delas nós agora possuímos um poderoso auxílio na jornada interior, uma nova chave para as portas da percepção, novo acesso aos problemas ancestrais da identidade e realidade. Nós, por esta razão, temos como nosso lema aquele atribuído a Heráclito: “Você não descobriria as fronteiras da psique, mesmo que viajasse por cada caminho, tão profunda é sua extensão e significado”.
tradução (ainda incompleta) feita por mim do Editorial da Psychedelic Review, Vol. I, No. 1, June 1963 - revista da Harvard University que publicou muitos dos trabalhos de gente como Timothy Leary, Alan W. Watts, Ralph Metzner.
Neste link você encontra os arquivos do periódico de 1963 a 1971.