DO MANUSCRITO PARA O DIGITAL
Resolvi fazer uma experiência antropológica. Dexei o computador de lado para escrever, com caneta em punho, um post sobre escrever - seja usando o teclado ou o lápis/caneta. Atento vocês para a baixa fidelidade disto... afinal de contas, quer coisa mais pessoal e significativa do que sua própria letra ? Bem, saiu mais ou menos isso:
O mote deste post é simplesmente ele ser executado "fora da tela", num bloco de notas não-virtual. Ops... que é isso ? A mesa onde escrevo agora é totalmente vacilante... Por quê ? Porque, na verdade, isso não pode ser considerada uma mesa com todas as letras. Seria mais uma espécie de "hack" (é assim mesmo que se escreve ?) pra comportar computador, impressora, caixas de som, cd's... escrivaninha ? há muito tempo não sei o que é uma. O pedaço de madeira onde escrevo é vacilante porque abriga um frágil teclado, com teclas que quase não necessitam de toque para imprimirem combinações de "zero e um" que são transformadas em letras, palavras, frases, e, por fim, textos inteiros. Quase não há suporte para o peso do punho, pra necessidade de apoiar-se numa tarefa - doar-se de todo corpo à escrita. Não, não estou dando uma de saudosista novamente, não estou querendo dizer que a "pena" é melhor do que as teclas, estou apenas descrevendo sensações que ambas me despertam. Talvez, racionalmente falando, o teclado seja incontestavelmente mais recomendado à escrita (caso se domine sua técnica de forma satisfatória), ainda mais tratando-se de um teclado de computador. Mas, acho que mesmo assim ainda há certas funções fundamentais para a escrita à mão. Uma delas é poder-se reconhecer uma pessoa através de sua caligrafia (os espaço em branco de formulários burocráticos geralmente são lugar imutável do cidadão afirmar sua "individualidade"). Claro que também há possibilidade desse reconhecimento acontecer apenas com o conteúdo, mas creio que seja muito mais difícil. Minha avó, por exemplo, é dotada de uma técnica de "ler" a caligrafia das pessoas, relacionando-as com suas respectivas personalidades. Várias pessoas costumam pedir-lhe pra ler suas caligrafias (lembro inclusive que certa vez ela relutou em dar o parecer de certa pessoa para seu caso de homossexualismo). Bem, seja importante ou não, o fato é que não há caligrafia num texto com "extensão ponto doc". Mas, em compensação, escrevendo de caneta/lápis não tenho "back space" nem "delete". Não posso selecionar e deletar, selecionar e recortar, copiar ou colar (aí entraria outros objetos em desuso, pelo menos pra esse fim: a tesoura e a cola).
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Agora tirei meus óculos e apoio-me no chão pra escrever. Sinto o cansaço de meu corpo. Afobação em minha caligrafia. Peso dos anos...
é... talvez a escrita à mão realmente não me seja mais funcional.
[pedaço de texto suprimido por não servir ao assunto sobre o qual eu me dispus a escrever... caso eu estivesse no computador, provavelmente abriria outro "bloco de notas" para registar esse novo direcionamento textual, ficando este salvo para futuros reaproveitamentos]
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De volta à "mesinha" do computador. Ainda sem óculos, mal enxergando o que escrevo, apenas fecho meu propósito de ser "repórter especial", enviado à "Terra do Primatas" que ainda usam a escrita de próprio punho, para conhecer um pouco das belezas e agruras dos tempos remotos...
à julgar pela caligrafia (que vocês não podem ver) diria que o "desenho" deste manuscrito ficou bastante irregular. Existiram várias oscilações emocionais... agora, por exemplo, nesse exato momento em que escrevo, tento a todo custo fazer uma "caligrafia sóbria". Só que isto é algo meio incontrolável no fluxo mental sob o qual padeço. Ele não abarca letras "bem traçadas"... talvez realmente fique muito "na cara" a situação psíquica na caligrafia de quem escreve, afinal, existem tantas matizes delas quanto existem para os nossos sentimentos.