CITAÇÕES
Na metodologia científica a citação (seja em nota de rodapé, intertextualmente ou na bibliografia) é um procedimento mais do que comum. Quem as lê sabe de que ponto o autor partiu para chegar em determinado conteúdo, havendo assim, a possibilidade de ampliação de nosso tão precipitado e parcial ponto de vista. muitas vezes descobrimos "fontes" que fazem jus à denominação - seus sucessores simplesmente bebem nela, e, alguns simplesmente falham feio ao tentar reproduzir o frescor daquelas águas...
De forma análoga, na música, gosto daquelas pessoas que declaram abertamente suas "influências" (excluindo-se aqui a perniciosidade do termo, que em certos casos apenas tenta enquadrar em categorias algo fluido como o som). Exemplo: no rock, do Nirvana eu parti para Black Sabbath, Sonic Youth, punk rock em geral, Velvet Underground... desses aí, separadamente fui explorando as respectivas influências, fazendo ligações, tecendo teias de identificações... até chegar no meu parco conhecimento atual sobre música (pop mais significativamente) - que, diga-se de passagem, ainda tem altos "buracos" (e que nunca será totalmente preenchido - nem as enciclopédias são capazes disso, pois pode-se descrever apenas uma parte do que é a música... e sua descrição não é ela). isso te dá o mínimo de senso crítico de saber quem é influenciado por quem e de constatar que, às vezes, melhor do que a "novidade" é beber direto nas chamadas fontes.
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Gostaria de falar aqui de pessoas que me influenciaram como o músico "amador" (no sentido de ter mais paixão pela coisa do que conhecimento efetivo) que sou, talvez até mais do que qualquer artista/banda de renome. tem aqueles com quem já toquei em banda e tal que acabaram me influenciando inevitavelmente. exemplos: rodrigo (que hoje toca com a má companhia entre outros), haymone (hoje do mellotrons), medinho (companheiro do pasárgada)... e tem outros com quem eu nunca cheguei a tocar em banda mas que exerceram também grande influência. Um exemplo dentro dessa categoria é Roberto Cientista. Pra mim trata-se uma figura lendária. Talvez eu simplesmente tenha ficado demasiado embasbacado na minha pré-adolescência com aquele verdadeiro "guitar-hero" (se bem que esse termo hoje virou sinônimo de mala). mas, enfim, o cara é um virtuose, mas um virtuose instintivo, daqueles que nunca chegaram a frequentar qualquer curso. me lembro como se fosse hoje de quando eu e o pessoal de minha primeira banda mostramos a ele uma de nossas simplórias composições... instrumental, diga-se de passagem. ao escutar, ele disse um "legal" meio complacente e soltou um "mas vocês não falaram que ela tinha um solo ?". solo ? como assim ? e essa parte da música: tom don don don don don... ? isso num é um solo ? "rapaz, isso é um riff". aaaahhhhhnnn. depois ele pediu que eu levasse qualquer música no violão. acho que toquei algo do black sabbath que foi totalmente perpassado por solos mirabolantes. roberto é um cara que tem uma coleção de vinis vastíssima no que se refere a rock (sua predileção é música pesada, mas encontra-se um kinks aqui, um mick ronson acolá...) e música erudita. na última vez em que falei com ele, ainda não tinha adotado o cd. era um verdadeiro rato de sebos. professor de história, sua cultura literária também era notável. lembro de uma feita em que estávamos jogando futebol (uma de minhas últimas tentativas nesse esporte). nos primeiros cinco minutos da partida eu já estava colocando os bofes pra fora e pedi pra sair. "profundissimamente hipocondríaco" comentei com ele no banco de reservas, e ele começou a citar augusto dos anjos aos borbotões. bem, nada mais condizente com aquele ser sempre vestido de preto.