CAMINHANDO E VIAJANDO
(26.03.04)
hoje à tarde fui caminhar. ir caminhar... hum... deveras perigoso hein ? sinal de velhice à porta não é verdade ? afinal de contas, parece que hoje em dia só os velhos são dispostos a isso... (será que esses atletas da terceira idade de hoje foram os loucos/mazeladores de antigamente e seremos todos como eles o mais breve do que podemos imaginar ?)
voltando à órbita, fui caminhar - sem ter de me preocupar com a pimpolha ("posso mandá um bêjo ? quiria mandá um beijo pra minha mãe... chuac! te amo mãe... vc tá me vendo aqui na tv ? brigado por ter tomado conta da netinha. dããã..."), e foi massa.

primeiro eu passei na pollybom (acho que é assim o nome), padaria/lanchonete aqui perto de casa (tem alguma padaria hoje em dia que seja somente padaria ? pois elas assemelham-se tanto a mercadinhos...), onde comi um croissant e tomei um migué aí chamado GuaraPlus que tinha uma composição estranhíssima (havia até uma recomendação de “consulta médica” antes de seu uso). tive a impressão do negóço ter alterado não só minha rotação cerebral, mas a do meu walkman também... por sinal, eu tava escutando o come on die young do mogwai (depois eu falo mais)...
mas, voltando novamente, depois de abandonar o croissant quase pela metade (não sei se estava seco demais ou minha saliva estava pouca - hum, deveras suspeito, hein), segui pela Henrique Dias. passando pela frente daquela igreja onde Dom Hélder celebrava missa (onde tem o
CENDHEC), deparo-me com uma ambulância estacionada que, pelo que percebi, rebocava alguma velha freira do convento ao lado - provavelmente nas últimas. sigo em frente, com os tensos rumores deixados pra trás, sentindo-me como que pegando algum "bastão da vida" que aquela provável "paciente terminal" me passava. dando continuidade à complexa rede de Gaia - eu que, naquela circunstância entregava-me ao momento com passionalidade, sem ter que habitar um intervalo moldador do conteúdo percebido (se, por exemplo, a hora do trabalho estivesse próxima, dificilmente permitiria-me tal coisa).
a essa altura do campeonato, sentia-me numa pacata cidadezinha do interior, com comerciantes vendendo suas frutas, donas de casa comprando legumes, crianças voltando da escola... mas como ? eu não estou no centro do recife ? reduto da promiscuidade, da estultice, da marginalidade, de tudo que existe de pior nos seres humanos ? nessas horas você percebe o quão aguda é sua alienação... não alienação política, e sim humana mesmo. porque as condições culturais (de habitação, convívio, morais...) impõe um isolamento às pessoas.
com este sentimento, dobro a esquina da Dom Bosco, onde passo por um vendedor de cds piratas. avisto um "Tony Garcia" na bancada, que me remete à velhos tempos de quando eu era guri querendo ser DJ, comprando vinis de miami bass (acho que esse cara - dono de um ridículo bigodinho - fazia parte dessa legenda), funk, tecnopop... passei de lado, por costume (já dizia o amigo carlinhos: "luzes da cidade - feche os olhos, passe de lado..."), mas fiquei com o disco na mente. resolvi voltar e conferir se por acaso haviam mais "raridades" que fizessem-me tecer mais "contatos imediatos" com o "reino passado". avistei o "cosmotron" do skank, que, contrariando minha tendência saudosita do momento, apontou-me pro que ainda não era - o futuro -, já que ainda não o havia escutado. pensei em levá-lo logo após o cara soltar "é cinco real", pois teoricamente aquela prática (vender cd pirata) era criminosa, e eu, naquele momento, a alimentava - logo, eu estaria expondo-me... mas minha tendência humanizadora fazia-me enxergar uma pessoa "normal" por trás daquela vestimenta criminosa. pedi pra que o cara colocasse o disco pra tocar, lembrando-me logo da cara de má vontade que a galera da loja vinil alternativo fazia quando jovens como eu pediam tal coisa... pra minha surpresa, o cara ficou solfejando algo com a boca, balançando um pouco o corpo no ritmo da música. aí eu disse que bastava ele ir passando as músicas pra eu sacar. ele ficou na maior, sem sinal de estar esperando eu ter a boa vontade de pedir pra ele passar a faixa. fez mais: me deu o controle remoto do som portátil dizendo que eu podia mexer nele, mas que eu tinha que apertar o botão de >> com força porque tava sem responder direito. depois dessa eu não quis mais alugar o cara, passei mais uma duas músicas e disse que iria levar.

ele ainda justificou o fato do cd estar numa daquelas caixas de plástico preto, dizendo que elas duravam mais que as outras e pá... ainda senti-me tentado de trocar o skank por um "the pops" que avistei já de saída, mas prossegui naquela minha primeira compra/delito de um cd pirata (skank - acho que eu nunca compraria o de uma banda local).
dobrei a esquina da Praça Chora Menino (que eu amo) observando detalhes - principalmente relativos à comerciantes - nunca dantes vistos, até que reencontrei tina, diogo e camila que rumavam em direção à mesma padaria na qual eu acabara de lanchar. sentei com eles e pedi um sonho com recheio de doce de leite. eita lara.