FERMENTO PARA A IMAGINAÇÃO
Nesses tempos frios sem o aconchego da rede (inter-) em casa (quem disse que a tecnologia, o cybernético são necessariamente frios ?) meu refúgio das agruras da vida tem sido a música - em particular meus registros sonoros em k7. Quase diariamente, quando a minha Luna vai deitar e sonhar com os anjinhos, eu dirijo-me religiosamente para a sala, onde tiro meus "instrumentos de trabalho" de dentro de cases, bolsas, caixas e passo a brincar com sons. Gosto de misturar camadas diferentes de timbres até que eles formem a "massa de um bolo"... é bem verdade que às vezes elas ficam semelhantes às daqueles bolos de noiva - cheia de agamenons, coberturas disso e daquilo outro, mas enjoosas que só a bixiga lixa -, mas em outras, lembram o sabor de uma deliciosa torta alemã (o parâmetro aqui é totalmente relativo, pois da mesma forma que eu adoro torta alemã, tem muita gente que odeia), de consistência meio "molenga", macia, crustaceana ... daí o fato dos andamentos das músicas serem fluidos, incertos, oscilantes... tudo bem, vá lá que o que não falta são falhas técnicas - o próprio lance dos andamentos se dá pelo fato de que é quase impossível não oscilar ao gravar a base de uma música sem metrônomo (ainda mais se a música não tem a simplicidade ramoniana no arranjo) - pois, quando você vai gravar por cima da base, às vezes dá uma nota forte onde a base dá uma fraca, justamente porque houve uma "desacelerada" macabra... No entanto, muitas vezes quando acontece isso em alguma gravação e eu tento refazê-la de uma forma mais reta, linear, acabava que a música perde o "sal" do momento, afinal de contas - doutrinas heraclitianas à parte - nenhum corte no tempo é igual a outro, nenhum segundo que seja de uma música será igual à tentativa de emulá-lo... logo, às vezes é melhor deixar um "borrão" expressivo do que "passar a limpo" inexpressivamente.
"Arcoverde minha terra" soa pra mim como se o pessoal do Mogwai encontrasse o elo perdido da organicidade que os fizesse deixar um pouco a krautrockiana cidade sonora que habitam, mergulhando numa floresta densa e úmida... Acho tanto isso que, conversando com os compadres
Breno e
Tiago sobre que título dar à música, disse-lhes dessa minha impressão (do fato de vinculá-la a algum lugar imaginário) e fui questionado da seguinte forma: "como é mesmo o nome da cidade em que naceste? Pesqueira é?", "Arcoverde, pô... morei em Pesqueira, mas Arcoverde é minha terra", "Ó aí o título: "Arcoverde minha terra", "(risos)", "então tá...".
Já
"O topete de Morissey" (responda-me já,
Sr. Erastto: o nome do velho Mozz é com um erre ou dois?) é uma projeção oitentista pouco ortodoxa que tem um dedilhadozinho meio Smiths (pelo menos eu acho) com trêmulo e oitavadas com reverb/delay... acho que futuramente tentarei encaixar alguma letra, pois tenho dúvidas quanto à sua sustentabilidade instrumental. Essa tá cheia de atrasadas feiosas, mas enfim... a idéia tá traçada. Gosto bastante do contraste das duas partes da música.
Aguardem novas disponibilizações em breve (inda tem um balaio de coisas que gostaria de compartilhar com vocês).
Espero que essas musiquinhas compensem um pouco a minha ausência neste blog (cês podem constatar se ela tá valendo à pena ou não)... Quanto a mim, sinto falta de minhas "viagens blogueiras ao centro da maionese", mas não vou negar que me divirto muito trocando (ainda que forçadamente) o teclado pelas cordas.
Bem vindos ao meu
álbum de polaroids desses dias recentes... Ou minha Delicatessen sonora... como queiram.