Pé-de-Cachimbo

naquele dia daniel saiu vagando pelas ruas, como gostava sempre de fazer. na verdade, nem tratava-se de gostar. o punk rock dera-lhe aquele "negativismo como princípio estético" ao qual aderira com todas as suas ações. logo, não haveria mais espaço para o gostar simples e desprovido de qualquer contaminação - fosse por conta do capital, das instituições, enfim... o espírito apocalíptico era pra ele a única forma aguda de conserguir voltar a tocar nas coisas / situações genuinamente.

ansiava por encontrar pessoas como ele. mendigava por isso. só que introvertidamente. afinal ele nunca pediria a ninguém para que fosse seu amigo. logo, todas aquelas meninas que moldavam verdadeiros peritos na arte galanteadora com seus traços e atitudes, passariam longe de sua lacrimosa companhia. sim, porque ele não sabia mais como sentir-se bem com o ambiente com o qual interagia. e o pior de tudo é que ele sabia que deveria, que tinha por obrigação estar se divertindo, tirando alguma graça das coisas medíocres (ops, pequenas) do dia-a-dia. tinha que dar-lhes alguma grandeza.

tanto niilismo pra quê ? pra adoecer logo do coração ? pra virar um velhoscente amargo ?

foi aí que ele descobriu o reaggae (maldita palavra da qual ele nunca acertava a grafia).