AO MESTRE, COM CARINHO (é o frêsqueh ?)Depois de ler várias HQs de
Robert Crumb e uma edição do zin... ops, revista
Tarja Preta (emprestados e "resenhados com direito a brilhinho nos olhos" por
Bernardo), instiguei-me pra voltar a desenhar quadrinhos.
Até os meus 12 anos de idade eu tinha certeza absoluta que queria isso pra minha vida profissional, quando cheguei a um ponto em que, insconscientemente, senti meu traço não evoluir mais, estancar... não que eu fosse alguém preocupado excessivamente com técnica, mas chega um ponto que o cara quer desesperadamente dizer "A" mas quando coloca no papel sai "B", "C", "D"... tudo menos o "A" que se buscava...
broxante pacaraleo, podecrê.
Na adolescência, cheguei a fazer algumas tentativas - a maioria delas desenhando histórias de bandas das quais participei - mas geralmente não passavam dos dois primeiros quadrinhos... daí a música passou a ser a forma de expressão com a qual consegui algum progresso - acompanhada de algumas tentativas de letras (essas por mais que tenha melhorado eu assumo que nunca foram meu forte mesmo).
Dias atrás dei-me conta que essa estagnação do papel/caneta não estava somente associada a alguma falta de de tato pra coisa, quando, impregnado dessa tal instigação, resolvi buscar (ainda que preguiçosamente - através de cliques do mouse) alguns subsídios na net.
Encontrei quase nada... e entre este "quase", um manual que mostrava algumas técnicas (de mangás - glup!) pra desenhar pessoas. Imprimi umas cinco páginas e comecei a seguí-las (sem ser à risca, claro - afinal pra quê desenhar pernas de Siriema quando podemos dar-lhes dar um volumoso "recheio"? :P ). Disciplina de menos, mas com vontade de dar vazão a um "instinto" adormecido, resolvi pedir ajuda a Paulo Mineiro, amigo e desenhista dos mais perfeccionistas que já vi (quem conhece os trabalhos do garoto com caneta Bic sabe do que falo) - ele sim é um desses desenhistas natos dos quais o conhecimento técnico só dá coesão teórica pra algo que já se exerce na prática.
Falei pra ele meio encabulado que tava tentando voltar a desenhar e pedi alguns toques... no mesmo instante ele sacou uma caneta e um bloquinho de anotações e mandou ver em uns 15 minutos uma senhora aula de perspectiva. Simplesmente fiquei de queixo caído... encantado e ao mesmo tempo desapontado por ter tido conhecimento de técnicas tão simples (mas tão importantes - como é por exemplo saber passar as marchas pra se dirigir um automóvel) só a essa altura do campeonato. Ah se eu tivesse conhecido o sujeito naquela época...
Ninguém - nem em carne e osso, nem através de livros/revistas - havia me dado esse tipo de toque antes. Muitos podem pensar: pô velho, por que não fostes atrás se era teu projeto de vida, etc e tal?
A estes eu posso dizer que era um fedelho sem dinheiro ("ainda hoje não tens" - algum engraçadinho pode replicar), sem internet e que nem sabia o que era uma biblioteca (embora - podem acreditar - ainda assim fosse feliz)...
Desta vez caiu-me de vez a ficha que não só posso sair do "ponto-morto" como também conduzir o carro com a mínima destreza. Dom ? Predestinação ? Pra quem os possui, ótimo... já pra quem, como eu, não os possui, a receita é mãos-à-obra, trabalho árduo.
E certamente o que ameniza toda a força empregada no trabalho é a própria necessidade de fazê-lo pelo prazer de olhar o "produto final" e reconhecer-se nele (essa idéia acho que devo ter surrupiado de "A Alma do Homem sob o Socialismo" de Oscar Wilde).
É isto, meus caros. Vamos ver se essa faísca acende um foguinho na Babilônia.